Posso só queixar-me um bocadinho?
Esta semana tenho estado doente, mas tenho tentado ser funcional, porque a vida assim o obriga. E isso fez-me pensar. Não sou de me queixar da vida adulta, eu gosto de ser adulta, e a obrigação de trabalhar e ter de pagar as contas não me chateia. Pelo contrário, dá-me a independência e a liberdade de fazer aquilo que eu quero, e usar o meu tempo livre como quiser. Claro está, não tenho filhos. Mas há um coisa chata em ser adulta. Ficar doente. Lembro-me de há uns anos, quando não vivia em Portugal, ter tido uma amigdalite e não conseguir falar. Quando liguei à minha chefe, sem voz, murmurando o que conseguia, que não podia ir trabalhar, ela fez um drama. Apesar do assédio laboral, não ia ser de todo possível trabalhar (já que implicava falar com pessoas). Passado uns anos, tive um outro episódio daquelas gripes que nos deixam tombados, e desta feita, talvez com toda experiência de assédio laboral que sempre tinha tido (inclusive em Portugal), fiz-me forte e fui trabalhar. Quando o meu chefe me viu, mandou-me logo para casa. Há humanos entre os humanos, afinal. E ainda bem que o fez. Fiquei uma semana de cama. Tive de me arrastar para ir ao médico, e depois arrastar-me até à farmácia. Tive de fazer as minhas refeições, não que eu quisesse muito comer. Quando dizem que estamos sozinhos no mundo, acho que se referem a momentos como estes. Que mais cedo ou mais tarde, na vida adulta ou velhice de todos nós, vai haver algum momento em que não está lá absolutamente ninguém e temos de usar todas as nossas forças para superar as nossas dores. É sempre chato ficar doente, mas quando somos miúdos, não vamos à escola, não temos de fazer nada em casa e podemo-nos queixar à vontade da nossa maleita. Quando somos adultos, percebemos que o mundo não pára porque nós estamos em estado zombie, nem nós podemos parar. Trabalho, que a não ser que esteja muito mal, tenho de o fazer. Compromissos, pelo mesmo motivo. Tarefas domésticas, porque vivendo sozinha, ninguém vai fazer o jantar, lavar a loiça ou levar o lixo por mim. E eu não tenho filhos. Imagino como será para quem sente que tem uma montanha em cima dos ombros em vez de uma cabeça, e ainda tem de cuidar de petizes. Desculpa mãe, desculpa pai, pelas vezes que tiveram de fazer um esforço extra-humano para cuidar de nós. E já que falo em esforço extra-humano, no trabalho, ninguém quer realmente saber se estamos doentes. Não é que não haja empatia. Não podemos é ser uns bébés chorões porque somos grandinhos e temos de mostrar-nos sempre muito fortes. Mas eu quero queixar-me, e dizer que estou a dar mais do meu máximo para as coisas continuarem a aparecer feitas, como aparecem quando não estou doente. Mas não sou uma criança, e então não digo nada. Se não estou no hospital, é porque está tudo bem. Por isso calo-me e faço o que tenho a fazer. E é esta a diferença de ser adulto. Acho que merecíamos uma palmadinhas nas costas.